O Partido dos Trabalhadores (PT) e o Coletivo Feminista de Mulheres Negras do Tocantins – Ajunta Preta expressaram repúdio à nomeação de uma mulher branca para o cargo de Secretária Municipal de Políticas Sociais e Igualdade Racial em Palmas, Tocantins. A decisão, divulgada no Diário Oficial do Município na última segunda-feira, 22, gerou preocupação e indignação por parte das organizações.
O PT emitiu uma nota de repúdio criticando a nomeação, destacando que a escolha representa uma perpetuação do “racismo estrutural” na cidade. O partido argumentou que, em uma população majoritariamente negra como a de Palmas, a falta de representatividade negra em cargos de liderança é inaceitável.
Por sua vez, o Coletivo Feminista de Mulheres Negras do Tocantins – Ajunta Preta manifestou sua preocupação com a nomeação, ressaltando a importância da representatividade negra na condução de estruturas públicas destinadas à promoção da igualdade racial. O grupo enfatizou a necessidade de que as vozes das mulheres negras sejam ouvidas e respeitadas em decisões que afetam diretamente suas vidas e realidades.
Ambas as organizações esperam que a prefeita de Palmas reconsidere a nomeação, buscando uma abordagem mais inclusiva e representativa alinhada com os princípios da promoção da igualdade racial. Tanto o PT quanto o Coletivo Ajunta Preta se colocaram à disposição para indicar nomes de mulheres negras com trajetória política e competência para liderar a pasta, reafirmando seu compromisso na luta pela justiça e igualdade.
A prefeitura de Palmas ainda não se manifestou sobre as críticas. O espaço está em aberto.
Confira as notas:
NOTA DO PT
Em Palmas/TO recentemente a prefeita Cinthia (PSDB) criou uma Secretaria de Desenvolvimento Social e igualdade racial, nomeando uma pessoa branca para chefiá-la. Tal situação causou revolta e indignação no conjunto do movimento negro, pois se trata de afronta a toda luta histórica por protagonismo negro nos espaços de poder cunhada por coletivos antirracistas de âmbito nacional, estadual e municipal.
Empiricamente sabemos que a maioria da população de Palmas é negra, e a ciência confirma essa informação com os dados do último censo do IBGE que diz que mais de 60% da nossa população é formada por pessoas pretas e pardas. No alto escalão da gestão municipal essa diversidade é sub representada: a maioria dos secretários municipais são brancos! Contudo, entendendo a existência do racismo e tensionadas/os pelo movimento negro, alguns chefes do poder executivo têm criado secretarias específicas para combater as desigualdades raciais existente em nossa sociedade.
No caso de Palmas, o racismo estrutural prevaleceu quando, mesmo diante de figuras negras competentes e experientes na temática de combate ao racismo, preferiram manter o prisma da hierarquia racial e nomearam uma pessoa branca para tal cargo. No Brasil, por muito tempo vigorou o mito da princesa salvadora para referenciar a Princesa Isabel como a grande expoente da abolição da escravidão em 1888. A nossa cultura seguiu endossando a síndrome do isabelismo no decorrer do tempo ao sempre procurar retratar os/as negros/as de forma passiva, a procura de uma pessoa branca heróica que acabaria com o fim do sofrimento da população negra. Hoje sabemos que tal ideologia serviu para paralisar a luta do povo negro de diversas formas e dificultar o surgimento de uma consciência racial revolucionária, tal como ocorrera no Haiti no século XVIII e como nos EUA nos anos de 1960.
É compreendendo todo esse contexto de colonização, opressão e silenciamento das lutas antirracistas protagonizadas por negros em nosso país, que o movimento negro reivindica os espaços de poder como forma de construir legitimamente uma reparação histórica e dignidade ao povo negro. Querer combater ao racismo sem dar protagonismo ao povo negro é um cinismo histórico que não admitiremos que ocorra mais.
Palmas é negra, e queremos conduzir com nossas próprias mãos as políticas públicas direcionadas ao nosso povo. Diante disso, nós da secretaria estadual de combate ao racismo do PT/TO enfatizamos:
Nada de nós sem nós pois como já diz o hino do maior movimento negro organizado do Brasil (MNU) “E se poder é bom, Negro também quer o poder,
Cantando em alto e tom, Negro também quer o poder”
Secretaria de Combate ao Racismo do PT-TO
NOTA DO COLETIVO
O Coletivo Feminista de Mulheres Negras do Tocantins- Ajunta Preta, organização que atua desde 2018 como frente de combate ao racismo e ao sexismo no Tocantins, vem a público manifestar preocupação e repúdio diante da nomeação de uma mulher branca para o cargo de Secretária Municipal de Políticas Sociais e Igualdade Racial de Palmas.
Diante disso, esperamos que a prefeita de Palmas reconsidere essa nomeação, buscando uma abordagem mais inclusiva e representativa, alinhada com os princípios da promoção da igualdade racial. Nos colocamos à disposição para a indicação de nomes de mulheres negras com trajetória política e competência para liderar a pasta. Permanecemos vigilantes na luta!